September 23, 2004

DEVORAVA-ME, com a lentidão suplicante de quem conhece, um a um, os passos seguintes de cada momento de prazer. Controlava-me a impaciência, refreava-me os instintos, ensinava-me, uma após outra, as técnicas possíveis do prazer e insinuava, esperando que eu tomasse a iniciativa, as que a minha fantasia fosse capaz de imaginar. Assim, dava-me a ilusão de que eu comandava tudo, e a simulação da sua surpresa era para mim um estímulo e uma recompensa. Quero eu dizer que me obrigava a pensar as fontes e os mecanismos do prazer e ensinou-me a planear o jogo incrivelmente excitante da sedução e da conquista do corpo: percebi que me internava num território imenso, sobre o qual se desenrolavam aventuras que nenhum escritor (sobretudo, nenhum escritor) seria capaz de descrever. Mas em breve compreendi que, mesmo que ela não quisesse, eu seria sempre visto como uma das suas conquistas: ela devia ter quase cinquenta anos, eu pouco mais de vinte.



António Mega Ferreira (1949)

Amor

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